Matérias mais lidas da Agência Senado refletem interesses de grupos organizados

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Matérias mais lidas da Agência Senado refletem interesses de grupos organizados
[Fotos: José Cruz / ABr; Guilherme Filho / SECOM-MT; Moreira Mariz / Agência Senado; Antonio Cruz / ABr]

A relação das reportagens da Agência Senado mais acessadas na internet mostra que matérias relacionadas a grupos organizados para a defesa de determinados interesses têm predominância sobre as demais. A contagem foi iniciada no dia 6 de outubro de 2009 e o ranking das mais lidas até 30 de agosto traz algumas surpresas.

As 14 matérias mais acessadas nesses 11 meses abordam assuntos relativos aos grupos organizados. A campeã de acessos – “Aprovada PEC que prevê piso salarial para policiais civis e militares” – foi publicada em 2 de dezembro do ano passado e foi lida 37.319 vezes.

A segunda matéria mais acessada, com 35.271 acessos, trata da tramitação, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), do projeto que estabelece as atividades privativas dos médicos. Reportagem que anuncia uma projeto que estabelece as atividades privativas dos médicos. Reportagem que anuncia uma projeto que estabelece as atividades privativas dos médicos. Reportagem que anuncia uma enquete sobre a atividade médica ficou em terceiro lugar, com 29.941 cliques.

– Aqui prevalece o interesse das grandes corporações. Aqueles que não estão organizados têm mais dificuldade – afirma o senador Paulo Paim (PT-RS).

Para o consultor legislativo do Senado Gilberto Guerzoni, o maior acesso de reportagens sobre temas corporativos não é inesperado:

– A relação entre a sociedade civil e o Parlamento se dá por meio de corporações – afirma o consultor.

Pressão no Congresso

Para Guerzoni, a ideia de um cidadão bem informado, ciente dos seus direitos e que atua politicamente “é uma ficção”. Esse cidadão, sustenta o consultor, só existe como parte de um grupo organizado, para defender um interesse corporativo.

Essa visão corporativa, acrescenta Guerzoni, se reflete nas propostas em tramitação no Congresso Nacional. Ela justifica o fato de boa parte dos projetos apresentados ser destinada a atender interesses específicos de corporações. Até porque são, na maioria das vezes, os agentes dessas corporações os que escrevem e apresentam sugestões e reclamações aos parlamentares.

Paulo Paim corrobora a tese do consultor:

– Eu sempre digo que o Congresso Nacional funciona de acordo com a batida do tambor, com o ruído do caminhar das sandálias nas ruas. Se você se mobilizar e pressionar, aprova. Se não, não aprova.

A senadora Fátima Cleide (PT-RO) concorda que a pressão da sociedade é muitas vezes fundamental na aprovação de projetos.

– Tem sido assim com várias matérias difíceis de aprovação, mas quando você lota as galerias da Câmara e do Senado, você consegue obter avanços. De forma que a gente pode afirmar que a pressão da sociedade organizada é determinante para fazer com que o Parlamento avance na questão dos direitos sociais.

Argumento semelhante tem o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR):

– As categorias que procuram fazer lobby têm mais ressonância no Congresso Nacional do que outras agremiações.

Para a diretora da Secretaria de Pesquisa e Opinião do Senado Federal (Sepop), Ana Lucia Romero Novelli, “é bastante compreensível que temas legislativos ligados aos grupos organizados sejam os que apresentam maior desempenho em número de leitores”.

– As pessoas que participam desses grupos ou movimentos tendem a ser mais atentas às suas demandas públicas do que as pessoas que não se dedicam a uma causa específica – afirma Ana Lúcia, ressalvando, porém, ser importante não confundir essa participação com a opinião geral da sociedade sobre o tema.

Interação

Para Mozarildo, a população ainda não encontrou mecanismos de se organizar de maneira mais efetiva. Para ele, caberia ao próprio Congresso Nacional estimular a população a interagir com seus representantes. Ele elogiou o programa Alô Senado, pelo qual os cidadãos podem formular aos senadores suas dúvidas e demandas.

– Quando o Senado trata de um determinado assunto, deveria haver um trabalho para que as pessoas pudessem tomar conhecimento dele e das implicações que ele acarreta. A discussão, nas comissões, se torna muito técnica e até enfadonha, precisando ser traduzida para a sociedade – argumenta Mozarildo, uma das principais lideranças da Maçonaria, outro importante grupo de interesse no Brasil. A homenagem à Maçonaria foi o tema mais procurado na Agência Senado entre 20 e 26 de agosto, com 7.683 acessos para as sete reportagens veiculadas sobre o assunto.

A senadora Fátima Cleide lamenta, porém, que mesmo as demandas que contam com a pressão do movimento social nem sempre são atendidas. Para ela, é fundamental que a sociedade de organize e se mobilize diante de temas que considera importantes para sua vida.

Já Paulo Paim afirma que a situação só mudará quando essas corporações, principalmente os sindicatos, passarem a trabalhar especificamente com as populações marginalizadas.

José Paulo Tupynambá / Agência Senado