ADMINISTRAÇÃO POR SUSTO

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“Quando se mistura alho com bugalho”

                                                                                              Amauri Meireles                                                                

 

Na mídia, a informação de que o Brasil é líder mundial em números absolutos de homicídios (56.337 ocorridos em 2012). Visto o índice de assassinatos – 29 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, número quase cinco vezes maior do que o índice mundial (6,2) – nosso país ocupa um vergonhoso 11º lugar em um ranking de 215.

            Durante cerimônia de encerramento do 9° encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o ministro da Justiça declarou que, em setembro, será lançado o Pacto Nacional de Redução de Homicídios, visando a reduzir em 5%, anualmente, a taxa desse crime. Esse pacto virá acompanhado por ações sociais em cada Estado.

Parece que será ressuscitada a manjada “administração por susto”! Muito marketing, muita ação midiática, mais para gerenciar o assombro, menos para minimizar o problema. Há dois anos atrás, quando Alagoas foi identificado como o Estado mais violento, foi lançado o Programa de Redução da Criminalidade Violenta, com o nome de Programa Brasil Mais Seguro. E daí?!,,,

E por que 5% e não 6, 7 ou um arrojado 10%? Porque pretendem atuar na causalidade, área das polícias de contenção de ameaças. É bom, mas não é suficiente! E a atuação nas causas e nos efeitos? Felizmente começam a falar em intervir nos fatores geradores da insegurança provocada pela criminalidade, ainda que focados erroneamente. É que pretendem atrelar ações sociais ao referido pacto. Claro que quaisquer ações de inclusão social são extremamente bem vindas, porém não se pode retornar ao equívoco de considerar pobreza e miséria como causas de delinqüência. Portanto, ainda há tempo para fazê-lo, o adequado é atrelar ações políticas que visem a fortalecer a cidadania, visto que o aumento da criminalidade é proporcional à desobediência às regras sociais e ao desrespeito aos valores sociais.  

            Na Plenária do 9º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi apresentado o resultado da pesquisa “Por um Pacto para a Redução de Homicídios no Brasil”. Se a intenção era ajudar, era jogar luz sobre esse nebuloso tema, deu xabú!

Perguntas assentadas em “achologia” tipo “você acredita, em sua opinião, você concorda, você acredita que pode ser vítima no próximo ano?” em nada contribuem para identificar-se como as vulnerabilidades e a ameaça-crime manifestam-se, assim como as formas de redução.

Ainda, ao propor “Você tem medo de ser vítima de violência por parte de criminosos, da Polícia Militar, da Polícia Civil” o formulador esqueceu-se de (ou não sabe) que o ambiente de segurança tem aspectos objetivos e subjetivos. Subliminarmente, a pergunta denigre duas instituições de Proteção Social e exalta o criminoso. Por quê? Isso somente contribui para o aumento da insegurança subjetiva.

E mais, a pesquisa não respeitou o fato de que cada região brasileira tem diversa percepção da criminalidade, cada uma é uma realidade cultural diferente. Erro idêntico ao de matemático que encontra uma média através da média das médias. Há vagas para competentes e de boa fé!…